Eu tinha quase
13 anos, era noite de baile a fantasia no Tebar. Ao entrar no salão, percebi
uma luz forte no canto do meu olho. Era a luz de alguém sentado no chão, não
muito longe da entrada. Não virei para ver quem era.
No meio do
baile, dançando e me divertindo muito com a Cynthia, de repente vejo um menino
sentado na minha frente, me secando, sem vergonha, sem tirar os olhos mesmo
quando parei de dançar ao perceber que estava sendo observada.
De novo, mais
uma vez, estava ele ali em outro momento, em outro lugar, parado me observando.
E nos conhecemos, era o amigo de amigos de quem tanto tinha ouvido falar. O Zé
Carlucci dizia que eu tinha de conhecer o Caio, que a gente ia se dar bem. O
Caio era “roqueiro como eu”.
Eu não sei
quando nos beijamos pela primeira vez. Mas lembro de outros beijos. Ele com a cabeça
deitada no meu colo e meus cabelos longos que, como ele dizia, faziam uma
cortina escondendo da rua, do olhar dos outros o nosso beijo.
O namoro foi
proibido em casa – supostamente ele fumava maconha. Se fumava, nunca na minha
frente. A felicidade durou pouco, ele foi viajar para o natal e ano novo e
disse que ligava quando voltasse. Nunca ligou... E hoje me pergunto por que eu
não liguei? Hum... 13 anos!
Os ano se
passaram ele foi morar em SP, eu fui morar em SP, nos vimos muito a miúdo e era
sempre um novo beijo e mais anos de não se ver. Nestes encontros, às vezes,
fumávamos maconha juntos!
Então, depois de
mais de mais de anos nos reencontramos no facebook. Eu agora em Berlim, ele em
Visconde de Mauá. Disse que queria visitá-lo quando fosse ao Brasil. Disse que
sim mas depois não se manifestou... Por que eu não me manifestei então? Hum 46
anos...
No outro ano de
repente ele estava anêmico, e logo veio a diagnose do câncer. Fui visitá-lo em
São José. Mais um beijo, emoção, a resposta da pergunta “por que não me
telefonou a mais de 30 anos atrás?” foi um abraço apertado.
Nos vimos um ano
depois, mais magro, com mais dores. Cozinhou pra nós uma sopa fantástica de
mandioca, me deu um volume de Chiclete com Bananas da sua coleção – A morte da
Re Bordosa. Me levou num sebo para comprar Asterix pro Benno.
Nos falamos a
última vez em novembro, queria que eu o ajudasse a escolher alguns de seus
poemas para publicar. Me enviou alguns deles. Planos para um futuro que não
existiria. Desde então silencio no face. E eu com medo de telefonar e
perguntar! Hum 47 anos... tem coisas que não mudam!
No início desta
semana sonhei como Caio. Estávamos bem juntos, minha cabeça deitada no seu
ombro, sentia seu calor sentia seu cheiro no sonho... Fui ver seu perfil, nele
a mensagem da família. Caio descobriu o segredo da vida no dia 12 de dezembro
de 2015. Ainda bem que, ao menos, tive a coragem de lhe dizer que ele seria sempre
o meu eterno namorado.