quinta-feira, 12 de maio de 2016

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos...


Eu tinha quase 13 anos, era noite de baile a fantasia no Tebar. Ao entrar no salão, percebi uma luz forte no canto do meu olho. Era a luz de alguém sentado no chão, não muito longe da entrada. Não virei para ver quem era.
No meio do baile, dançando e me divertindo muito com a Cynthia, de repente vejo um menino sentado na minha frente, me secando, sem vergonha, sem tirar os olhos mesmo quando parei de dançar ao perceber que estava sendo observada.
De novo, mais uma vez, estava ele ali em outro momento, em outro lugar, parado me observando. E nos conhecemos, era o amigo de amigos de quem tanto tinha ouvido falar. O Zé Carlucci dizia que eu tinha de conhecer o Caio, que a gente ia se dar bem. O Caio era “roqueiro como eu”.
Eu não sei quando nos beijamos pela primeira vez. Mas lembro de outros beijos. Ele com a cabeça deitada no meu colo e meus cabelos longos que, como ele dizia, faziam uma cortina escondendo da rua, do olhar dos outros o nosso beijo.
O namoro foi proibido em casa – supostamente ele fumava maconha. Se fumava, nunca na minha frente. A felicidade durou pouco, ele foi viajar para o natal e ano novo e disse que ligava quando voltasse. Nunca ligou... E hoje me pergunto por que eu não liguei? Hum... 13 anos!
Os ano se passaram ele foi morar em SP, eu fui morar em SP, nos vimos muito a miúdo e era sempre um novo beijo e mais anos de não se ver. Nestes encontros, às vezes, fumávamos maconha juntos!
Então, depois de mais de mais de anos nos reencontramos no facebook. Eu agora em Berlim, ele em Visconde de Mauá. Disse que queria visitá-lo quando fosse ao Brasil. Disse que sim mas depois não se manifestou... Por que eu não me manifestei então? Hum 46 anos...
No outro ano de repente ele estava anêmico, e logo veio a diagnose do câncer. Fui visitá-lo em São José. Mais um beijo, emoção, a resposta da pergunta “por que não me telefonou a mais de 30 anos atrás?” foi um abraço apertado.
Nos vimos um ano depois, mais magro, com mais dores. Cozinhou pra nós uma sopa fantástica de mandioca, me deu um volume de Chiclete com Bananas da sua coleção – A morte da Re Bordosa. Me levou num sebo para comprar Asterix pro Benno.
Nos falamos a última vez em novembro, queria que eu o ajudasse a escolher alguns de seus poemas para publicar. Me enviou alguns deles. Planos para um futuro que não existiria. Desde então silencio no face. E eu com medo de telefonar e perguntar! Hum 47 anos... tem coisas que não mudam!
No início desta semana sonhei como Caio. Estávamos bem juntos, minha cabeça deitada no seu ombro, sentia seu calor sentia seu cheiro no sonho... Fui ver seu perfil, nele a mensagem da família. Caio descobriu o segredo da vida no dia 12 de dezembro de 2015. Ainda bem que, ao menos, tive a coragem de lhe dizer que ele seria sempre o meu eterno namorado.


Inverno sem Fim


Aí então, num momento de fraqueza ou de lucidez, me pego na pergunta: “Mas que cazzo faço eu aqui em Berlim?!” Uma pergunta feita por muitos. Claro, não todos a formulam desta maneira, uns são mais educados, outros não usam a marca paulistana. Mas enfim, a pergunta é a mesma.

Morar em Berlim soa fantástico e o é, não nego. Mas com o tempo e o descuidado a cidade passa a ser "uma cidade como outra qualquer". Tem gente que gosta de se autoproclamar “berlinense”. Como aquele da frase famosa “I’m a berliner”. Mas eu digo. Mentira! O cara era só populista mesmo. Só é berlinense quem acha o inverno “normal” nem pensa sobre isso, ou pensa: “É, é difícil, mas é assim” e leva de boa. Esta é a medida.

Quando vim pra cá era verão. O meu erro. Você pode estar pensado: “Erro?! Berlim no verão?! Que viagem!”  Sim erro, se o cidadão vier para Berlim no verão ele se apaixona. Aí... tarde demais, tarde demais mesmo. Porque, depois de ser seduzido e encantado pela cidade, ou seja, quando você já está ali bem entregue, vem o inverno.

E se ainda não bastasse a armadilha do verão, ainda há o antes do inverno. 
Antes do inverno você vive a exuberância, a explosão de cores, o delírio da morte cíclica da natureza, a luz suave e intensa da porra do outono. Ah! Vaffanculo! (pra continuar na vibe italiana) o que é isso, o outono!? O outono em Berlim é pra te amarrar, amordaçar, e tudo isso sem você perceber. Você está ali todo feliz em poder participar desta orgia de sensações. E isso é tudo de bom. Passear pelos parques e brincar como uma criança, chutando os montes do folhas no chão. Fechar os olhos e lembrar do barulho das folhas no momento do chute...

Se, ao lembrar, você ainda sente um fiozinho de felicidade, eu digo: Tá ferrado. E cabe aqui  os dois sentidos da palavra – todos servem. Você já tem um dono, já está domesticado que nem uma mula e está numa situação (emocional) difícil. Ferrado, no inverno de Berlim.
Porque meu caro, o inverno... O inverno em Berlim não tem cores, não tem luz, não tem fonte de energia e felicidade. O inverno consome. E ainda tem pouca neve e se neva logo tudo vira uma lama cinza e fria, nada bonita, como a gente de lá, imagina a neve...


E você se pega dentro de um  carro aquecido, ou de uma casa, se deixando esquentar por um raro fiozinho de sol que, por acaso, toca seu rosto. Pensando: “Putz, agora lá é carnaval...” E olha, eu nem gosto do Carnaval! Nunca fui tão gato na minha vida, como em Berlim no inverno, observando o lá fora através das janelas.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Danou-se

Danou-se! 
Porque hoje quem quer falar fala, quem quer publicar, publica e ninguém vai parar ninguém.
Só falta o público achar você e ter a sensibilidade de perceber a sua genialidade, a sua agudez de pensamento, a sua argumentação marota e bem humorada que faz qualquer crítica ácida virar estilo.
Bom, só falta...

A razão deste espaço aberto é antes de mais nada eu não perder meu português, ter a liberdade de escrever palavras caídas em desuso e resgatar outras esquecida, claro estas não por mim. As que eu esqueci, que lembrem os outros!

A primeira: "garapa". E aí eu me pergunto, é um termo regional, de região tão pequena que foi engolida pelo desequilíbrio espacial? Ou foi a funcionalidade e o caráter auto explicativo da palavra vencedora, que lhe proporcionaram a tal vantagem?
Por onde eu olho, afinal, é só "caldo de cana"!
De repente percebi, tarde demais para poder afasta-la, a falta saudosista que me faz a "garapa". 

Assim como tb, já que uma coisa puxa a outra, percebi agora quando escrevo que a palavra "pinga" tb está caindo em descrédito. É só "cachaça" que ouvi por esses tempos, quando andei tomando caipirinha de maracujá.

Pode-se dizer então, que da garapa fazia-se pinga e do caldo de cana se faz a cachaça?
Tempos novos, tempos idos, termos idos... perdidos.

Os sociólogos da linguísticas já explicaram isso e a nós, leigos laicos, só nos resta aceitar e deixar pra lá a garapa e a pinga ou arriscar uma comunicação aberta a desentendidos. Na possibilidade, chamar o garçom ou o vendedor mais velho dos estabelecimentos também pode ser uma resistência e uma atitude política.

Eu bebo garapa, na minha terra se faz café com garapa e da garapa se faz a pinga... Pode ser até uma questão de identidade ou simplesmente preguiça, afinal são mais curtas as palavras!!!!